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Há pessoas com quem falo no escuro.
Numa espécie de monólogo, entrego as minhas insónias, os meus medos e divagações. Jorro sonhos em palavras, de peito aberto, atropelada entre as histórias que vivo e as que invento, constantemente. Percorro vitórias sangrentas, enfrento as mais duras desilusões.
E nessa escuridão encontro o brilho de um sorriso que não vejo, o calor de uma mão que não toco, mas sinto. E nessa escuridão sei que me escutam e abraçam, por vezes beijam e amam.
Encontro-as sem hora marcada, no escuro onde vivem. Pessoas que me encantam, cativam. Sem rosto.
Pudesse ser noite sempre, no meu planeta distante.
tema: alguém especial que nunca (mais) vi
imagem retirada da net
Sem ideias para escrever alguma coisa de jeito, desato a escrever coisas sem nexo, ao sabor do pensamento e que vou apagando de seguida com medo que alguém as veja e me julgue louca. Pensando melhor, talvez seja interessante o exercício de não apagar. A partir deste momento desisto de carregar no delete e vou deixar que a mente vagueie e passe aos dedos o que surgir. Coisa parva, estão já a pensar. Eu também acho mas até ter uma ideia decente fico-me pelas coisas parvas. Este exercio começa agora:
Tenho frio aqui sentada e não me apetece estar aqui onde estou. A janela que não abre aprisiona-me, sufoca-me, impede-me de viver. Pelo intervalo da persiana vejo o céu cinzento recortado por casas velhas. Acabou de passar um guarda-chuva. Não vejo a chuva cair mas sinto-a pelo frio que passa por debaixo da porta, pela cor escura que entra pela janela que não abre. Está um bom dia para ficar em casa no sofá. Gostava de voltar a ter tempo para ler. Como antes. Horas e horas a ler, por vezes até acabar o livro, mesmo que não jantasse ou jantasse de livro ao lado, mesmo que entrasse pela noite dentro, mesmo que só terminasse pela manhã. Lembro-me que quando era mais nova, antes de ser adulta, naquela fase em que se devora o mundo, eu devorava os livros. E era tão bom poder perder-me nas histórias que não eram a minha. Sempre tive essa capacidade de me embrenhar nas histórias, de quase as viver como as personagens. Era uma forma diferente de viajar pelo mundo e pelo tempo. Já fui ao passado assim. Já fui ao futuro. Já fui velha e já vivi no Cairo e já viajei no Expresso Siberiano.
Aqui só vejo gente que passa e cara triste. Já ninguém sorri para ninguém, nem sequer para si próprios.
Daqui a pouco vou lá fora. Preciso de respirar. Aproveito e tomo um café. Que seria de mim sem a cafeína? Também hei-de ir ver os livros expostos no supermercado. Já sei que não vou comprar. O mais certo é que nem tenha nenhum do meu agrado. Já raramente compro livros. Estão tão caros…
A janela continua ali.
Suspiro.
Que ideia esta de nos fecharem num escritório o dia todo…
Não sei quem a teve, mas mais valia que nesse dia tivesse estado como eu estou hoje, sem ideias!
tema da semana: sem ideias
Ao longo de todo este tempo que passou, não ofereci palavras. Não ofereci conjugações bonitas do verbo amar só para agradar ou alimentar qualquer Ego. Ofereci a minha alma, quem sou, o que sou, e o que ficou por oferecer [se ficou] apenas ficou por falta de espaço, tempo, oprtunidade.
Não tenho medo.
Não tenho sequer medo de oferecer agora estas palavras ao papel. Não tenho medo de enfrentar o que quer que seja que lá vem. Estou consciente e certa de todo este passado intenso a que me dediquei enquanto foi presente. Não quero nada do que dei, de volta, de todo, nunca sequer sairá da minha boca [ou dos meus dedos] qualquer ideia de arrependimento. Guardo tudo, e para sempre, o que recebi.
O que te dei – é teu!
Talvez eu não saiba amar, ou talvez tu não saibas amar, ou ser amado, também não importa muito, certo!? Talvez tu tenhas medo, ou talvez não. Talvez...
“O nosso amor é óptimo” - foi assim ipsis verbis que afirmaste – e agora faltam-me ideias. Ideias para justificar, para me culpar, para desculpar.
É preciso, de novo arrumar gavetas. Resolver amarguras, descobrir novas ternuras e guardar todas as boas, maravilhosas, recordações. E que nada apague nada.
Talvez o problema, ou talvez não, seja apenas a falta de ideias... a única que me surge é a de amar para libertar... mas não foi sempre assim??
Tema semanal: Sem ideias
Faça-se uns parênteses na história e reflicta-se sobre o caminho que fizemos até aqui. Estamos prestes a descobrir um grande segredo e cabe-me a mim contar-vos o que ouvi naquele dia, naquele bar que supostamente se encontrava sozinho. O barulho das ondas e o murmúrio das emoções não deixou que eles dessem por mim. Entrei ao mesmo tempo que Laura mas ninguém percebeu que ela vinha acompanhada. Mas perdoem-me não é sobre mim que devo falar.
- Páginas em branco Bernardo? Não achas que isso é um pouco infantil?
- Estas páginas não estão em branco. Estas páginas estão cheias de memórias e pensamentos.
- Memórias e pensamentos? Morámos juntos durante anos e não te sabia tão sonhador.
- Deixas que te conte?
- Estou cada vez mais curiosa …
- Como sabes o meu pai é diplomata e isso obrigou-nos a andar sempre de casa às costas.
- Sim – respondeu Laura cada vez mais curiosa
- Sempre que partia, chorava. Custava-me deixar os amigos, os locais e muitas vezes aos espaços onde costumava brincar e correr. Lembras-te de te ter contado que um dos meus sítios preferidos tinha sido Moçambique?
- Sim, lembro – respondeu Laura enquanto sorria carinhosamente. Lembrava-se agora que foram essas partilhas que os uniram há anos atrás.
- Quando estávamos de partida uma das empregadas dos meus pais a quem eu chamava de Bá apanhou-me a chorar, e ao perceber que eu chorava de saudades antecipadas disse que ia fazer uma magia para que eu voltasse aos locais sempre que quisesse. No dia seguinte ofereceu-me este livro em branco e quando eu ripostei que ainda não sabia escrever ela disse-me que não era preciso saber escrever para guardar memórias e pensamentos.
- Então esse livro …
- Este livro é o meu baú de memórias e pensamentos. Sempre que sinto saudades de alguma coisa olho para as páginas em branco e recordo-me enquanto viajo no tempo, sinto cheiros, sabores, vejo rostos e ouço as vozes. Quando fecho o livro sinto-me como se tivesse viajado no tempo.
Laura ficou a olhar para Bernardo embevecida. Pensava no quão simples são as explicações e o quão gostamos de as complicar.
- Antes que perguntes também nós temos páginas escritas neste livro. E eram essas páginas que tinha saudades de ler e sentir.
Laura levantou-se e dirigiu-se a Bernardo.
Eu, senti-me a mais e retirei-me naquele momento que devia ser apenas deles. Não sei se concordam comigo mas existem momentos que devem ser apenas nossos. Pelo que ouvi dizer as páginas em branco juntaram-nos novamente, e quase que vos podia contar que viveram felizes para sempre. No entanto, prefiro deixar nas vossas mãos um futuro em branco para que cada um de vós o imagine como acha que deve imaginar.
Passa uma vida onde o falar é mais do que o pensar. Soltam-se as palavras como se não existisses amanhã. Verbaliza-se como se de uma verdade absoluta se tratasse. Defende-se o que tem de ser defendido e ataca-se o que tem de ser atacado. Sempre com verdade absoluta. Até porque existe um momento na vida da maioria de nós que somos donos e senhores do mundo. Se fossemos nós a mandar tudo, mas mesmo tudo, seria diferente. Alguns continuam assim outros seguem aquilo que considero o percurso normal.
Quebram-se as regras do que vem sido dito e cala-se. Cala-se pela vida e na vida. A partir de certo momento acredita-se que o amadurecimento nos contém. Eu acredito que o amadurecimento apenas nos permite. Permite-nos ser aquilo que queremos ser, e manifestarmo-nos apenas naquilo que sabemos que é nosso. Cala-nos no momento em que percebemos que o ouvir vai ser apenas isso um ouvir sem sequer se reflectir.
Silêncio! Silêncio despido de prepotência e irreverencia. Silêncio não na greve de palavras mas na manifestação das ideias. Silêncio inteligente quebrado apenas por uma vontade suprema de dizermos o que tem de ser dito.
Amadurece-se na vida e amadurece-se nas palavras onde, por vezes, o silêncio é apenas juiz do que faz ou não sentido dizer.
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