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Acontece que às vezes sinto-me cansada, carente. Vagueio perdida no meio de tanta gente e pergunto-me espantada quem sou. Às vezes sinto-me confusa, a fraquejar. Como se o meu corpo fosse um barco de papel, frágil, à deriva em alto mar. Acordo assim meio esquecida, embrulhada entre este mundo e os outros onde vivo, enfrentando fantasmas invencíveis. Só. Acontece que nestes dias tudo me agride por dentro, inunda-me um imenso vazio sem cor.
Talvez seja preciso apenas uma pausa. Uma vírgula para arranjar forças para continuar. É que tenho a sensação que toda a gente exige muito, corre demasiado e tem sempre pressa, mas não sabe bem o que alcançar.
Pudesse eu ter muitas vidas, para sentir de formas tão diferentes de mim. Pudesse eu ser diferente para não pensar. É a que vida dá voltas e voltas, sei bem, mas eu ainda não me consegui habituar.
Continuo a ter esperanças imortais, sonhos impossíveis, doses extravagantes de ingenuidade. Acredito nas palavras mais ousadas, nas profecias dos loucos, nos estranhos que me abordam ao passar. Como se o mundo fosse um conto de fadas, onde eu me encanto com as personagens que crio só para mim. Um castelo erguido de ouro, um príncipe a cavalo e lá no alto uma princesa com roupas de cetim. Pudesse eu ver o mundo diferente, talvez não me sentisse assim.
Acontece que há dias em que choro baixinho, num embalar triste e desiludido. Ancoro o corpo trilhado no escuro e devolvo-o ao porto seguro, onde ele devia estar. Deposito no seu colo a minha alma agitada e recebo aquele abraço firme, incapaz de vacilar. Procuro nele as palavras verdadeiras que me afagam e a voz tranquila que me embala, até adormecer. Por vezes arranco-lhe conversas sem sentido, procuro gargalhadas sonoras, descontroladas. Sorrisos! Preciso de sorrisos para viver. Depois, descanso nele o corpo vencido, das batalhas onde se deixou matar. E é aqui, onde o vento sacode as lágrimas indomáveis, que deposito o que me rasga por dentro e recebo a calma para seguir em frente.
Tema da semana: "Banco da alma"
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